quarta-feira, 27 de maio de 2015

Nesse sofrido torrão





Ô Vivi Meu camarada 
 Hoje mudei a toada
Atendi sua chamada
Pra cumprir uma missão
Versejar sobre o sertão
E essa seca inclemente
Que assola diariamente
Esse sofrido torrão

Os meses vão se passando
O sol ardente queimando
E o povo lastimando
É grave a situação
Tá morrendo a plantação
Aguadas não existem mais
Já morrem os animais
Nesse sofrido torrão

Cá no sertão da Bahia
Já não existe alegria
Pois a seca todo dia
Vem castigando o sertão
No brejo e no chapadão
Caatinga não tem mais nada
Tanta terra arrasada
Nesse sofrido torrão

Morre a rama e o capim
A batata e o aipim
O lavrador diz assim
Meu  Deus dai a solução
Mandai chuva pra o sertão
Pra se plantar e colher
E a gente poder viver
Nesse sofrido torrão

Não se ouve de manhã
O cantar da Jaçanã
Nem o coaxar da rã
Pois secou o ribeirão
É grande a desolação
Desse povo sertanejo
Ao ver todo o seu desejo
Fenecer nesse torrão
Pros lados do Xororó
Nem jacu e nem socó
Já não tem mais curió
Nem ave de arribação
Dá uma dor no coração
A realidade é triste
Forte é o povo que resiste
Nesse sofrido torrão

Nesse panorama eu vejo
Como sofre o sertanejo
Quando acaba o seu manejo
Ao morrer o alazão
Cavalo de estimação
E a vaca Salomé
Com o bode barnabé
Nesse sofrido torrão

Diante desse relato
O sertanejo de fato
Diz “é o momento exato
De deixar  esse sertão”
Com tristeza e comoção
Deixa os filhos e a mulher
Seja lá o que Deus quiser
Adeus sofrido torrão.

Autor: Ismael Guedes Pereira