Fiz de minha vida um enorme palco
Sem atores, para a peça em cartaz
Sem ninguém para aplaudir este meu
pranto
Que vai pingando e uma poça no palco se
faz.
Palco triste é meu mundo desabitado
Solitário me apresenta como astro
Astro que chora, ri e se curva à
derrota
E derrotado muito mais astro me faço.
Todo mundo reparou no meu olhar triste
Mas todo mundo estava cansado de ver
isso
E todo mundo se esqueceu de minha
estréia
Pois todo mundo tinha um outro
compromisso.
Mas um dia meu palco, escuro, continuou
E muita gente curiosa veio me ver
Viram no palco um corpo já estendido
Eram meus fãs que vieram para me ver
morrer.
Esta noite foi a noite em que virei
astro
A multidão estava lá, atenta como eu
queria.
Suspirei eterna e vitoriosamente
Pois ali o personagem nascia
E eu, ator do mundo, como minha
solidão...
Morria!
Anderson Herzer